terça-feira, 15 de maio de 2012

Entre homens e estrelas




         Eu queria ter gostado da matemática, queria ter amado a física desde cedo, estar tão íntimo do raciocínio lógico de nível científico quanto amantes em amor.
Permitir-me-ia desistir de entender as pessoas, de estudar os assuntos humanos, de fazer conjunturas sobre doutrinas velhas a fim de tornar a justiça dos homens mais justa e moderna, menos colunas gregas e mais povo nos tribunais, mais realidade e razoabilidade nas sentenças. A interpretação dos princípios morais, ou constitucionais de direito quais sejam estão em constante mudança, e assim que seja. As teorias da psique, que hoje em dia é em toda - ou quase isto - freudiana, aparece por muitas vezes como algo mais surreal que a própria loucura, que o diga a lobotomia. Desisto. Quero entender o universo, que apesar de infinito nos traz mais respostas que a análise de outro ser humano. Entender a nós mesmos já não é nada fácil. Estrelas apenas nascem e morrem, não desejam amor, dinheiro ou felicidade.
Desejaria remedir a distância de todas as constelações em relação as pirâmides de Gizé, apenas para brincar, apenas para lançar teorias e reforçar conspirações ufologistas e rir disto no intervalo do almoço com meus amigos cientistas. Eu apenas teria amigos cientistas. Quero derrubar o Big Bang, apesar de caduco; dizer a data exata da explosão do sol no futuro, para que comecem a serem vendidos os ingressos e camarotes hereditários para o esperado dia da extinção humana; chegar ao ponto de compreender e explicar claramente a Teoria das Cordas, trabalhar no LHC, dominar a Física Quântica, provar que existem partículas mais rápidas que a velocidade da luz, e depois levar flores ao túmulo do grande Einstein, para me desculpar por ter destruído toda a base da Física moderna; ter um emprego na famosa agência espacial americana, ou em uma agência espacial russa qualquer, desde que astronauta fosse, viajar ao espaço ainda que em órbita baixa, nem que seja para reabastecer a despensa da Estação Espacial Internacional; decorar todas as nomenclaturas relacionadas aos quarks, descobrir planetas e sistemas assim como as antigas nações supremas dos mares descobriram um novo mundo. Talvez, ser apenas um singelo cosmologista, que ensina em uma modesta universidade três dias na semana, e nos outros dois é professor voluntário de ciências em uma escola pública.
As miudezas das relações interpessoais – de Aristóteles ou Bush, só estariam presentes aos feriados, em romances dostoievskianos, em uma novela de Kafka ao meio dia, ou em um poema de Pessoa ao dormir. Neruda ao vinho, Beccaria para passar o tempo, e Coppola nas noites de insônia. Contudo, percebo que o homem e sua história são tão profundos quanto qualquer buraco negro que eu venha a constatar, ambos podem nos levar a outro lugar, assim como um deles nos levaria à uma imensa distância em um ínfimo prazo de tempo, o estudo da história poderá adiantar o futuro sem que preciso seja a espera de um século, apenas lembrando do passado. Entre homens e estrelas, confuso, eu escolho descobrir.