sábado, 13 de novembro de 2010

Garota Cervantes



Certa noite de meia lua, ela me fez refletir o quanto mudei sua vida, seus pensamentos, seus hábitos, seu cabelo, mesmo sendo estes tão pessoais.
Porém, seus elogios e reflexões amistosas nunca vinham sozinhos. Eram como belos cavalos brancos, ávidos de glória, e que blindados com sua armadura imponente disparam na frente das tropas carregando sobre eles os mais bravos guerreiros de espadas afiadas com o objetivo de causar o maior estrago possível na defesa do campo adversário, facilitando o restante do ataque.
Foi então que ao final de seus dizeres, com meu escudo já  ao chão, ela conseguiu me surpreender com a última parte do seu monólogo – suas reflexões finais são sempre as responsáveis pelos maiores dramas que já assolaram o meu pobre e suíço cotidiano –  desta vez ela se comparou á uma jubarte que sempre reinou sozinha em seu oceano, alimentando-se de milhares de peixes pequenos, mas que por algum motivo se sentiu atraída pela praia (eu), então vai em sua direção, e aos poucos percebe que está cada vez mais no raso, continua, mesmo sabendo que encalhará e não sobreviverá na areia (meus braços).
Completamente desconcertado beijo-lhe a face como quem se desculpa. Calado, sofri o resto daquela noite pela culpa que sua comparação, tão profunda e quixotesca, pretensiosamente me atribuiu.



 _
 Miguel de Cervantes foi romancista, dramaturgo e poeta espanhol. Sua obra prima, Dom Quixote.