sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um dia de comemoração em Blessed Hill


Era uma tarde bem diferente daquelas típicas em época de colheita do algodão. Todos os negros daquele humilde vilarejo estavam reunidos e felizes festejando ao som de palmas, gritos e um velho banjo. O dia em comemoração era aquele em que seus filhos finalmente puderam colocar os pés onde os outros garotos, brancos, sempre puderam por algum motivo.

Apertadas naquele salão dezenas de vozes em coro cantavam os versos “This little light of mine, I'm gonna let it shine”. Por trás de toda aquela melodia estava o sonho de liberdade e igualdade. Aquele da retórica afiada do Dr. Luther King. A Felicidade estava traduzida nos sorrisos de todos, e a esperança naqueles olhos tão acostumados a derramarem lágrimas e a serem espremidos na reação involuntária da pálpebra em uma tentativa de proteção contra o sol voraz do Alabama.  

A velha senhora, de aparência sofrida e sentada lá no fundo possuía uma linda camélia em suas mãos, as mesmas que em tempos antigos já estiveram fortemente amarradas por dois dias e duas noites a um grande pinheiro em uma fazenda trinta milhas distante. Castigo por ser negra e ter adoecido seriamente enquanto havia trabalho na lavoura. A admiração das crianças na energia e talento do jovem músico no palco é quebrada quando de repente alguém comenta sobre as saborosas amoras-silvestres. Logo, todos aqueles pequenos estavam devorando a plantação atrás do Hope Saloon. 

Uma Boa terra, alguns animais corpulentos e outros nem tanto, também existia um riacho demasiadamente sereno. Os mais velhos batizaram aquele lugar de “Blessed Hill” – Colina Abençoada.