quarta-feira, 18 de abril de 2012

Bem-estar e o desdouro da retórica religiosa

    

    Até hoje não entendemos como Hitler conseguiu convencer todo um país, todo um povo, muitas são as hipóteses. Falo não somente o convencimento em si, mas as razões que justificavam tal ideal nazista de bem comum. Então, vemos novamente pessoas medianas convencerem milhões, no atual tempo, e com todos os meios propícios de resistência e informação. Volto a não entender. Pequenos e imensos bunkers de profetas, filhos de Hermes, sofistas dotados do dom da interpretação sagrada, ou, grandes publicitários, grandessíssimos louvores, domingos, sábados, que valem toda uma semana de condutas contrárias, curas putativas, fantasmas vestidos e de relógio que trazem mensagens de um mundo sem pudor e atemporal, casas de lucro, bilhões de batizados e irmãos, seguidores e financiadores de algum sentido. O sentido na realidade é a busca por este com a sensação de já ter encontrado.

     O latim ruiu, o velho testemunho foi confirmado como conto de fadas por seus próprios guardiões, pastores deixando suas ovelhas para responderem crimes, terras santas lavadas... de sangue e discórdia, trincheiras bentas, barbas sem sentido, talvez marujos de um olho só. Ética e moral são  valores essenciais, no entanto, parte do regramento para fins de ordem e governo já nos faz desnecessária ou velha, de maneira igual os dogmas. Os demônios foram todos extintos, Freud reina. Assim como uma mãe que bem quer àquele que bem faz ao filho, o Criador, próximo se faz quando próximos estamos de suas criaturas, sem rituais surrealistas e livros absolutos, racionalmente, e sem tradutores; aulas de astronomia e sociologia, ao invés de catecismos. Não existe ninguém em um mundo paralelo e azul requerendo orações e provas de amor, decretando verdades e despachando os filhos defeituosos para a vala, assim como fazem os indígenas, e como fizeram os espartanos no mundo antigo. Deixem isso para os autores romancistas, e sejam ação. Reunir-vos sim, porém deixando divindades e pompas no devido Olimpo, morto na história, e as grandes estruturas para os centros de abrigo e casas de apoio.

     A busca pelo bem-estar é criação do concreto, da moeda, ilusão da fé. Contudo, já implantada em nossos genes, assim como o otimismo - que segundo recentes pesquisas científicas é realmente genético. A melhor igreja é aquela que nunca foi, aquela dentro de nós, a autoevolução, entendendo os vazios, buscando conhecimento e qualidades, entendendo os componentes cognitivos e culturais que nos fazem, não esperando a plenitude extraterrestre, e aceitando a ciência como produtora da cura e da versão oficial dos fatos . Ryff e Keyes (1995)¹ bem definiram os fatores para o wellbeing (bem-estar): autoaceitação; a sensação de se ter controle sobre o ambiente; a sensação de se viver uma vida cheia de sentido; a busca de crescimento pessoal; relações sociais positivas; autonomia.
¹_Ryff, C.D. & Keyes, C.L.M. (1995). The structure of psychological well-being revised.Journal of Personality and Social Psychology,69, 719-727.