sábado, 20 de fevereiro de 2010

Black Sky

-->

-Qual a cor do céu em inglês?
 Perguntou a  professora de doce expressão ao mesmo tempo em que levantava seu braço direito com um lápis na mão, numa tentativa de envolver os pequenos alunos em sua aula.
-Blue! Blue! Blue! Blue! 
Exclamavam em voz alta, todas as crianças com os braços ao alto. Sorriu a jovem mestre, pelo acerto unânime da classe.
-Black.. 
Sussurrou o único aluno que não tinha se manifestado instantes antes. Todos, inclusive a professora que mudara de expressão, desviaram seu olhares de quem julga para o canto direito da sala, especificamente ao garotinho sério de óculos redondos que sentava ao lado da grande janela, com um olhar despreocupado aos outros que ali estavam, mas que atravessava com vigor aqueles vidros sujos para admirar o céu de nuvens que realmente era azul e nada de preto tinha. De repente é disparado  o escandaloso sinal sonoro que alertava o fim da aula, quebrando a situação que tinha sido criada.
      A resposta "Black" não estava errada, durante a noite o céu realmente se torna escuro.  A imagem de céu mais representativa para o “garotinho sério de óculos redondos” não era aquele do azul ensolarado e com nuvens que a maioria das pessoas tem, sejam elas crianças de sua idade ou adultos maduros. Ele já entendia que todos preferiam o “Blue”, pois o céu do dia é mais simples, fácil e de forma nenhuma parece misterioso ou estranho, é apenas uma bela paisagem de tons claros e agradáveis. O seu céu mais interessante e mais real era o preto, com lua, estrelas e até mesmo estrelas cadentes que ele sabia que existia, mas que ainda não tinha visto. Toda noite antes de dormir, pela janela aberta do seu quarto, sentia o mistério do céu preto, e nesse momento ele se tornava grande, pequena era a noite para todos os seus pensamentos, a cada astro uma pergunta, não era para menos, afinal era um choque entre uma criança e o temido universo, que ocorria diariamente naquele travesseiro. Aquele escuro o atraía e enchia sua cabeça de dúvidas, ainda assim o menino tinha uma certeza, que por trás do brilho de cada estrela havia uma resposta.
      Anos depois aquele garoto tinha realizado seu sonho duplo, se tornou astronauta e viajou de verdade pelo espaço. Quando estava lá em cima fez questão de tirar uma fotografia em especial. Após voltar, a primeira coisa que fez foi enviar uma carta a sua antiga professora de inglês. A professora, hoje velha, mas de boa memória, quando recebeu a carta em mãos não lembrou de maneira alguma do remetente, assim abriu o envelope e achou uma grande foto na qual se via o planeta Terra bem pequeno e azul, e ao fundo ocupando quase que toda a foto  estava o preto do espaço, no verso da foto tinha os dizeres: “Querida professora, como a senhora pode perceber nesta imagem, o céu só é azul ao redor da Terra, mas em todo o infinito do universo ele é preto”. Ela então se lembrou do garotinho que foi seu aluno há muitos anos atrás, que respondeu “black” e que sentava ao lado da janela. Mais que isso, ela entendeu que enquanto a maioria das pessoas só consegue enxergar até onde seus olhos alcançam, outras vêem além, além do azul do céu. Lágrimas escorreram pela face daquela senhora ao mesmo tempo em que suspirava, deixou cair a fotografia, o experiente coração já não mais batia. Nesse mesmo momento o garotinho, hoje um adulto excepcional, estava deitado na sua cama e olhando o céu, como fazia todas as noites desde muito pequeno e de repente espantou-se ao ver pela primeira vez uma estrela cadente, que irradiava o preto daquela noite com a luz de sua cauda de fogo, então, na mesma hora que apreciava aquele momento tão esperado, com fé fez um pedido, e como um milagre o brilho dos olhos da sua antiga professora tinha voltado, junto com o pulso do seu coração.

Um comentário:

  1. Muito lindo!
    Acho que é assim que grandes cientistas e pensadores da humanidade pensam... eles enxergam além do que os olhos podem ver.

    ResponderExcluir

Comente algo interessante para nós dois. certo?